terça-feira, 27 de outubro de 2009

soube que eras diferente
no dia em que em vez do nome
me perguntaste com quantas mãos
se escreve o amor.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

voracitate

imagem de José Vaz


chegam-me às mãos as túlipas brancas
como um universo inflamado
de bocas e ombros tácitos
quando não ouço nenhum mar ocultar-se
na desenvoltura dos dedos
digo-te: é preciso um candeeiro nesta
rua iminente.
não há nevoeiro mais tardio a sobrevoar
o sereno amanhecer das algas,
o sentimento de ti começa na cegueira
das palavras previsíveis
e vai descendo a silente claridade
dos túmulos.

chegam-me às mãos as cidades necessárias
magras como cães de língua acesa.
digo-te: quero apenas o silêncio,
o fumo breve da inocência a trespassar-me
a avidez da sombra.



cláudia ferreira

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

lake in resorts

e se me roubas mais um dia
se a mim me basta
uma caneta bic
preta-uma-caneta
no bafo das horas

uma folha
morta-a-folha-de-ontem
no jornal de amanhã
limpo às 6 horas
no céu granítico da tua boca


.vamos.


incendiar as ruas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

time for decay

os teus olhos atrás do cabide
atmosferas imensas.o pano da cozinha.imundo.
na mármore.lado esquerdo do peito.
em sangue.copos.
posso usar o teu prato?
posso esquecer-te.rápido sentimento.
absoluto.
mudar tudo o que sou.o livro no lugar da alma.
puro.não és.nem por sombras.

cama.cama.
ainda dói. não são facas.
são penas espetadas nas mãos.
e na televisão. deixa-te levar.
é francesa a felicidade.

quase.nada

de que lado nasce o caos.
mortífero.feérico.
o teu sorriso de sombra.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

amor que é amor tem tanto de puro como de leviano. não peço nada ao amor. não podemos pedir nada ao amor a não ser que exista desconfortavelmente no nosso peito. que os olhos do amor são ribanceiras que vivem nas nossa mãos. que nas nossas mãos não cabe o amor do mundo, nem o nosso amor. no amor não cabe. línguas entrelaçadas são só línguas, ainda que entrelaçadas não são necessariamente amor. nem o amor é necessariamente o melhor que se pode ser.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

a redenção de sofia

vê como chora a puta com a espingarda na boca
como cerra os dentes de ouro contra o soalho
vê como se iluminam as mãos nesse momento
e a ternura se acende no interior dos ossos.

como se entrelaçam os rios e imploram
a lascívia e o fracasso


[a cabeça esmagada entre os joelhos]


cláudia ferreira