segunda-feira, 5 de setembro de 2016

entrelinhas

olho-te enquanto esperas o café
os olhos cansados e os lábios pálidos
de uma noite mal dormida.
estamos demasiado exaustos
para contar as voltas da solidão
ou as flores que teimam em crescer
junto às escadas da casa.

deixaste a caixa do correio aberta
para que todos vejam que não
queres saber do que virá do outro
lado do mundo. que postal nenhum
te moverá em direção ao portão.

esperamos que chova ou que nos
seja possível nascer outra vez
numa cidade mais próxima do futuro
ou num lugar em que ninguém nos
conheça.

talvez os nossos dedos se encontrem.
frios e flácidos, fracos como o corpo
imaginário que inventamos numa
noite qualquer de cinema barato.

olho-te enquanto bebes o café
e todas as peças se juntam mesmo
que não queiramos, mesmo quando
não encaixam de forma alguma.
todas as peças se juntam e vejo
nos teus olhos a nuvem mais brilhante
deste dia.



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