sexta-feira, 2 de setembro de 2016

eu choro sentada no cimento frio da estação com a cabeça pousada nos joelhos e os dedos dobrados de raiva.
não. na verdade, estou encostada a uma parede irregular, com o bilhete de comboio entre os dedos, a imaginar como seria sobreviver a todas as fatalidades.
sonhei que não conseguia falar. e quando tentava, eram cabelos a sair-me da boca. novelos de cabelo e saliva. a minha boca como o ralo da banheira em que tomaste banho esta manhã.
sonhei que eras tu, nu, a sair-me da boca quando tentava falar. as tuas mãos, os teus braços, o teu sexo a sair-me da boca enquanto estremeço.
eu, encostada a esta parede amarela, irregular, com o bilhete de comboio na mão. já rasgado. não vou, penso. não vou. és tu a sair-me nu pela boca e do outro lado do mundo as luzes vão rasgar-me o peito, eu sei.
tu, é a palavra mais longa que conheço.





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