quarta-feira, 24 de novembro de 2010

pretending machine

há flores a fingir no parapeito da janela em frente
uma dor plástica dentro de um girassol de asas brancas
le grand secret das palmas das mãos amordaçadas dentro
do vício homicida do esquecimento
sorririas ao desespero com o cigarro entre os lábios
como que a morder-te os tendões
e sairías à rua com o verniz apodrecido debaixo das unhas.
dirias, com dois dedos a segurar-te o rosto,
que o amor é um desejo animal
e passarias o resto da noite a foder em silêncio.

não estivesses morto e havias de rir das minhas palavras,
eu procuraria apenas manter a memória da tua saliva nos meus
segredos mais puros
o tempo, acredita, dar-te-ia uma infinita sensação de acidente.
eu pegaria no copo, encostar-me-ia para trás no soalho
ficaria, só, a contar os passos da tua ausência.


cláudia ferreira