quinta-feira, 17 de abril de 2008

deixa-te estar, eu deixo-me estar
o tempo passa e não nos perdemos.
dobro lençóis, desdobro lençóis
assim o tempo passa e não nos perdemos.
deixa-te estar, eu deixo-me estar
a ferida toma conta do corpo,
ganhas um prémio literário
e morres a seguir na vci.

deixa-te estar, eu deixo-me estar
escondo o luto por trás do cigarro
não me perco nem te perco
dissolvo a monotonia na chávena com café.
nem a noite acontece
nem os travões funcionam
em cima do gato incendiário.


a tua ausência dá-me tempo para a leitura, releio os antigos títulos deixados no pó da cerejeira.
depois de ti construíram uma igreja na berma da estrada e, de vez em quando, é de lá que vem a música.
as mãos movem-se sozinhas na acidez dos móveis, comprei-te um espelho suave que sorri todas as manhãs.
lembras-te da cocaína de sevilha? como corria debaixo da mesa. PABLO, pablito! tira-lhe a mordaça!
ri-te meu amor morto da minha vida que a chuva não dói à superfície da pele como nas noites de novembro.


cláudia ferreira

2 comentários:

Menina Limão disse...

pensei deixar-te o habitual e respeitoso silêncio, mas hoje não resisti a quebrá-lo. a tua poesia queima.

(essa música é-me tão dolorosa...)

12 disse...

"ri-te meu amor morto da minha vida que a chuva não dói à superfície da pele como nas noites de novembro"

comovente na sua crueza. não existem palavras bonitas para a ausência, só as palavras que existem, quando existem.

voltarei para te ler