quarta-feira, 25 de maio de 2016

esta cidade já não é nossa

o café onde te segurei a mão pela primeira vez
é agora uma coisa qualquer para gente na moda

ninguém sabe que foi ali, precisamente naquela mesa
que te pedi a mais impossível das escolhas
ninguém sabe que foi ali que nos amamos pela primeira vez
e que dançamos pela primeira vez sem movermos sequer um dedo.

Esta cidade, este país, esta língua
já não são nossos.

gente estranha pisa exatamente o mesmo chão
a que tentei agarrar-me com tanta força
que só a lembrança desse dia faz estremecer ainda o que resta de mim.

talvez se lembrem de nós estas paredes
a que tantas vezes me encostei à espera que chegasses
o cigarro aceso e tu ao longe, penteias o cabelo com a mão
perguntas-me se demoraste, digo que não.

minto.

esperar por ti é concretizar a eternidade.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

foi o tempo que me deu a lucidez
de perceber que o maior sentimento é o medo

olho-te e tenho medo
quando não estás, eu tenho medo
e se me tocas, todos os ossos do meu corpo tremem

não há amor que supere o medo
pelo contrário
amar é viver em pânico.


se te perco a ti, julgo ter sido eu a morrer.