quinta-feira, 7 de março de 2013

digamos que a vida não é suficiente para ti,
atiras o cabelo para trás
como quem apaga um cigarro
no cinzeiro de ninguém
e no interior das tuas mãos
mora um corpo translúdido

guardas religiosamente
o vestido do casamento das almas
no quarto do fundo do corredor
depois da madeira envernizada
das escadas
o corrimão de ferro gasto
a estupidez da natureza morta
[na parede, nas paredes]
um lápis esquecido
junto ao rodapé.
de paris, de copenhaga, de dublin
a poesia chega igual
[um grafismo desconhecido,
quase fonético]
não percebes muito bem
o sentimento da chuva
na janela suja do escritório,
assim, uma brutalidade
quase naive que roubas
da montra de uma livraria qualquer.

digamos que em ti quase tudo é indiferença
o cheiro a mortos no pátio da vizinha,
a moldura caída há dois anos na estante,
os livros rasgados nos cantos,
a tabacaria do pessoa
(indiferente, indiferente...)
mas um sorriso pode destruir
qualquer realidade.

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