domingo, 1 de julho de 2007

1926


imagem de Filomena Chito


desejo-te a morte.
agora que o maço de tabaco
inumera cidades onde te vi crescer
e que vejo em ti
os olhos do último amor.

se me apanhares em flagrante
a plantar flores no chão da sala
depois de visitar todos os telhados
para de te ver na perspectiva distante
- da saudade -
deixa-me só amanhecer mais uma vez
cansada demais para poder prender-te
enquanto a chuva se detém nos ombros.

vês o rio no último andar daquele prédio?
é como um incêndio que envelhece ao tocar os lábios
e não se diz nada, é só o silêncio
- a tua nudez mais profunda -
a tua nudez em mim.


cláudia ferreira

1 comentário:

Paulo disse...

se, na morte que te peço
renasceres mais sábio do que as estrelas,
constelação da minha alma gémea
lua em leão, vénus em escorpião e plutão em balança

então saberei que se cumpriu a transcedência
que faz atravessar a noite e renascer os dias
todos os impossíveis sucederem-se
e os milagres de que falam os sonhos cumprirem-se

o meu corpo será um mar imenso e profundo
onde nós, crianças azuis de sol e lua
nos daremos sorrindo num eterno brincar
filhos do pássaro-devir a que chama-mos amor.