quarta-feira, 5 de setembro de 2007


imagem de Pedro Moreira


ainda que me sobrem duas ou três palavras
para embaciar a mesa de centro na sala verde,
entristeço-me como na última noite das aves.
deixo cair violentamente sobre as acácias
as mãos exaustas do amante folheado no primeiro livro.
repito o nome das coisas mais fechadas
para não esquecer as circunstâncias.

não te construo, suponho-te taciturno e interminável
na ondulação da pele sob o vestido ansioso
e é nos meus olhos que acendo as ruas quietas
quando as janelas são minutos cegos a percorrer o corpo
como tenazes de fogo a evitar precipícios.

ainda que sobrem apenas dois pés cruzados
na tenacidade dos dias, o peito deitar-se-á nos teus vícios
numa corrosão infernal.


cláudia ferreira

1 comentário:

Andreia disse...

Absolutamente prendida à imagem, hei-de voltar para ler o texto... :)