sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

será que ainda te reconheço?

poderão outros cabelos parecer-me os teus
ou outra mão imitar o teu toque no cumprimento cordial
poderão outros lábios ser os teus lábios
e outra boca a equação do homicídio perfeito

saberei do teu peito quando o meu corpo cansado
ceder e se deixar cair na espiral iluminada da morte
terás o mesmo cheiro ou a vida ter-te-á traído como a mim?

como saberei se és tu que andas à minha frente nas ruas da cidade
ensina-me a perceber o teu gesto quando pedes um café ou um bilhete de comboio
como poderei saber se vens às 8 da manhã ou às 3 das tarde?

vai ser verão ou as árvores já estarão despidas?
poderás tu reconhecer-me agora que tenho o corpo coberto de espinhos?
e a alma, vai saber? vai ceder ao retrocesso?

se me encontrares, conta-me do dia em que nos conhecemos
gostava de ouvir-te falar desse dia visto dos teus olhos
ou não digas nada porque o silêncio foi sempre o que nos definiu.

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