quinta-feira, 5 de julho de 2007






só não poderás sobreviver ao fulgor das artérias em torno da casa
quando a abandonas junto às crianças descalças e sujas do recomeço.
talvez consigas sentir uma bala movimentar-se no interior das gengivas
quando inspiras o ar morno do entardecer junto às silvas ensanguentadas

morriam longas as palmas das mãos de te acenar numa estação estrangeira
com o casaco vestido na inevitabilidade do vento de norte
e os lábios gretados na espera tumular de um céu crescente.

a rapariga deu-te um cigarro e não te falou das cidades que viu nascer
dentro dos teus olhos quando o teu corpo era um par de asas abertas
na torrencialidade da sinalização rodoviária. depois, foi como se,
de repente, gasolina se prendesse entre as falanges e te tocasse o rosto.

é nas minhas costas que se fecha o teu sorriso de âmbar e se enrolam as palavras,
estão os teus braços atados aos olhos
dos fusos-horários da anestesia.
é dentro do medo que a noite repousa na mais pueril simbiose.



cláudia ferreira

3 comentários:

Unknown disse...

Olá. fico muito contente por ler novamente os teus textos, espero que estes continuem a surgir....

eu por cá continuo em:

www.cadillac-obsceno.blogspot.com

Santiago santos

Anónimo disse...

Olá. fico muito contente por ler novamente os teus textos, espero que estes continuem a surgir....

eu por cá continuo em:

www.cadillac-obsceno.blogspot.com

C-ASA disse...

um passeio em plena zona proibida, lembrando Bréton (esse puro e egocêntrico surrealista.

Agulha, (que é o nome que penso dar-te... desculpa o atrevimento...)escreves com a sombra dos anjos e o paladar da planicie... que belo.