sexta-feira, 9 de setembro de 2016

em volta (envolta)

nas tuas palavras. eu quase me encontro nas tuas palavras. mas de repente, é uma mulher que não fuma. ou são cabelos negros lisos e vestidos de seda vermelha. e eu percebo que não sou eu nas tuas palavras. que não sou eu na tua boca, que não sou eu a recolher-me no teu corpo. eu, às vezes, iludo-me e leio um livro de oitocentas páginas para me provar que gosto de ler, para me encontrar nas palavras de alguém. mas depois é um homem de nariz grande e camisa aos quadrados e eu percebo que não sou eu naquelas palavras. talvez deve-se ler só a primeira frase de todos os livros, de todos os teus discursos. talvez devesse ouvir só a primeira frase de todas as conversas, de todos os anúncios publicitários. e seria sempre eu nas palavras e não apenas a minha sensação de não me encontrar em lugar algum.

um dia eu pensei mesmo mesmo que era eu nas tuas palavras. mas depois era amor e eu percebi que não. devia ter lido só a primeira frase.


Sem comentários: