terça-feira, 13 de setembro de 2016

nada

não sei como cortar um cadáver. pensava Ana olhando para Alberto deliciosamente morto em cima da bancada da cozinha.
talvez tenha que consultar a enciclopédia ou uns vídeos de anatomia, talvez deva treinar primeiro noutros cadáveres, prosseguiu.
quem olha agora estes dois, pela fissura que existe na parede mestra da casa, não poderia imaginar o quanto se amam.
ele morto, é difícil imaginar um morto com o coração acelerado e com as pernas a tremer. ela, acende um cigarro, limpa as mãos cheias de sangue à camisa verde. devíamos ter música Alberto, pensa. e começa a cantar uma música que aconteceu dançarem anos antes numa festa de uma terra longínqua onde foram para por mero acaso ao desviar-se da estrada principal devido a um acidente.
o morto quase sorri.
como cortar um cadáver. pesquisar. será que quis dizer como transformar o amor em pequenos amuletos?


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