quarta-feira, 7 de setembro de 2016

girl, you must be ready to get me what i want

acordo leve, esfrego os olhos com os dedos. esqueço-me sempre de tirar o rímel antes de adormecer. acordo leve com os olhos sujos. pensei que talvez pudéssemos tomar um café naquele jardim que te mostrei e a que nunca foste. antes mesmo de lavar a cara, de pôr o pé fora da cama. pego no telemóvel, estico-me para chegar ao telemóvel que deixo cair no tapete. estico-me para apanhá-lo no tapete. nenhuma mensagem, nenhuma chamada, nenhum e-mail, nenhum alarme definido para uma qualquer hora do dia.
pensei que pudéssemos tomar café, enviar.
levanto-me e parece que me atravessa uma espada na zona lombar, devo ter-me deixado adormecer a ver televisão. lembro-me que se beijavam no filme e depois ele era assassinado por uns gajos quaisquer que apareceram a correr. não me lembro de mais nada.

não me apetece tomar banho, nem vestir, nem fazer a cama, nem pintar a cara nem mudar de roupa interior.
mas talvez queiras tomar café comigo. fumo sentada na banheira, dentro da banheira. as casas de banho são lugares tão sós, sempre me disseste que podíamos foder na casa de banho. eu dizia-te que não, é muito frio, e os vizinhos podem ouvir-nos pela conduta da ventilação e sei lá, as casas de banho fazem-me dores de cabeça. e tu dizias que eu é que sei. talvez me enchesse o peito de ar, eu é que sei, eu é que sei.
cai-me cinza na camisa de dormir, não quero saber. queres tomar café? passaram 7 minutos, não respondes.
abro a torneira e a água sobe, molha-me a roupa, apaga-me o cigarro. flutuo só por dentro do que não sei.

diz-me, por que é que é sempre tão difícil gostar de ti. por que é que tens sempre merdas para fazer quando eu quero só ficar aqui a olhar-te. sempre muito ocupado, menos para foder em casas de banho. para isso pareces estar sempre pronto, para a única coisa que eu não quero porque não gosto de casas de banho.
saio da água, esqueci-me de trazer toalha, que se foda. lavo os dentes. o telemóvel toca. és tu, sorrio.
respondes, é esse o teu problema, pensar demais. apago.