Ao fundo, o mar que me devora,
todas as aves despidas sobre os muros,
o cheiro dos dedos por apodrecer, ao fundo.
Foram tantas as vezes que me perdi no hálito da manhã
que cheguei a julgar-me secretamente despida de todo o tempo,
a brisa deixou de chegar a este lado da casa,
formou-se de repente uma cortina de silêncio que me rompeu a carne,
o sangue escorreu-me de encontro à parede dos teus olhos.
Nenhum grito foi solto nesta cidade.
Ao fundo, o gemido descrente da falha submersa,
os lilases agitados trespassam o horizonte,
as sílabas ditas a medo no momento hostil do esquecimento,
o luar salivado, ao fundo.
Visto daqui, o inverno subrepõe-se à terra e ao vício.
O cigarro arde até ao osso do trémulo pensamento,
até ao espelho de tudo o que disse poder dar-te,
as romãs jamais se voltarão a fechar,
ser intacto é não ser.
E no fundo desta noite não há nenhuma gaivota fugidía e terna,
não há um sabor definido na boca das ruas.
Ao fundo apenas o medo.
Intacto, sombrio e semi-eterno.
c.
sábado, 31 de dezembro de 2011
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4 comentários:
No fundo de nós encontra-se o nada que é o tudo. Mt bom texto.
Tens andado desaparecida... Miss your words.
sim:) fazem falta "estas" palavras.
gostei. muito. vou ler mais.
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