Não leias isto por favor.
Chegou o dia. Eu esperei e tu não vieste. Eu já sabia deste
dia mas ao contrário do que esperava, não tive medo. Fechei os olhos e vi o teu
sorriso, juro, como se fosses tu ali fisicamente a amanhecer nas minhas
dúvidas.
Tu não vieste e eu não tive medo. Foi antes como ser
arrastada por uma onda para todas as mortes. Consegues imaginar o vazio de
todas as mortes? É um cheiro que nunca mais te larga e que te vai engolir
lentamente como se pudesses servir a algo que não existe.
Não leias isto por favor.
Meu amor. (não posso chamar-te meu amor.)
Às vezes choro. Fico imóvel e planeio todas as minhas fugas
como se fosse possível fugir dos teus olhos, tão negros e profundos, tão
perfeitos. Eu nunca ganhei nada, acredita e, por outro lado fui tão estúpida
que gastei o teu tempo com as minhas banalidades, neuroses, e trivialidades de quem não sabe esconder-se.
Poderás esquecer que surgi no teu caminho? Prometo tentar apagar todos os vestígios da
minha inútil passagem, prometo. Perdoa esta alma inquieta que nem perder sabe,
apesar de ter passado a vida toda a fazê-lo.
Vou embora, meu amor, e é tão tarde para quem não existe.
Eu que nunca toquei o teu corpo
Que só de pensá-lo me perdi tão completamente
Procuro agora as linhas confusas do regresso
Tu, tão perfeito e inocente na quietude dos dias
E eu tão feroz a destruir a tua beleza com as minhas
imperfeições
Não poderia querer-te mais,
Tanto que o meu coração parece ter sido pisado por mil pés
de homens confusos.
Adeus meu amor, que não suporto um segundo só da tua
ausência
E a minha guerra já começou há tanto tempo
E eu ainda não sei a forma certa de morrer.
c.
c.
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