terça-feira, 13 de dezembro de 2011

descobertas matinais


Amar-te é só mais uma forma de estar sozinha. Assim como as mãos deslizam na decadência do corpo sem esperar nada além da pele morta, também as feridas preenchem todos os espaços vazios. Antes de ti não havia nada, agora não há nada e não há verdade mais acidental do que esta.

Talvez consiga ainda levantar-me e dar os passos certos em direcção à porta mas de repente, é a janela aberta que me invade, uma brisa que tem o teu cheiro ou a minha imaginação a enlear-se no absurdo desejo de ti.

Não sei quem sou mas fugi sempre das permanências como um pássaro alienado no céu da tua boca.

Amar-te é só mais uma forma de estar sozinha e tu nunca.nunca decoraste o meu nome.


c.

2 comentários:

je suis...noir disse...

e isto faz-me lembrar isto:

"retorno para mim e em mim toda desencontro já o meu regresso."
M.Teresa Horta

Tudo boas referências:)

Paulo disse...

Talvez eu não tenha percebido

Da virtualidade... dos espelhos
Das projeções... da luz
Das mentiras... das palavras
Da prisão... dos passados
E da ilusão... do amor.


Talvez eu não tenha percebido

Desta verdade que me é inescapável, à qual eu retorno, criminoso, depois de me cegar, uma vez mais, pelo desejo inebriante do que é impossível.

Deste vazio que tudo preenche, como uma sombra que os meus olhos coberta (já nem sei a verdadeira luz das coisas), tão incrustado em mim que se tornou a minha pele.

Desta dor surda, ensurdecedora, gritantemente silenciosa, este ruido de fundo que julguei habituar-me e nada mais me deixa ouvir.


Talvez eu não me tenha apercebido

De como me violaste os sonhos
Roubaste-me de toda a fortuna que herdei
De dias felizes que merecia
De um destino por mim acalentado
E arrancado da minha pele em ferida


Se hoje trago os olhos abertos
É de me olhar como um pássaro ferido
Por, um dia, em ti, querer querido voar....

Em ti, querer querido voar...