segunda-feira, 13 de junho de 2016

13 de junho
chove.

este dia já aconteceu.
tu chegas, eu corro
baixo o olhar e talvez tropece
talvez me inventes.

passou por mim um homem a fugir da chuva
não lhe vi o rosto mas reconheci-lhe a angústia
vai morrer hoje mas não sabe
sente-se morto há demasiado tempo
foge da vida como foge da chuva
está cego mas ainda assim pára,
para deixar passar o comboio.

como se algum comboio pudesse matar o que já está morto.

decerto se apagaria essa sensação de suicídio lento
nunca mais pediria a deus qualquer sinal
nunca mais compraria tabaco, ali, onde está agora.
o olhar seria sempre o mais acertado
e não ficaria nervoso quando ela o fitasse.

está morto mas não sabe
e agarra-se à incerteza com tal desejo
que poderiamos acreditar estar mais vivo que nunca.

não está.
mas se ela chega, toda a avenida se ilumina
diz-lhe bom dia, ela não responde
acende um cigarro, está com pressa
e chove.


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