sexta-feira, 17 de junho de 2016

inversão de marcha

não mais falaremos sobre a distância
esse instrumento que inventamos
para nos proteger do gelo e da morte

não mais falaremos de lágrimas
embora continuemos a chorar amiúde
quando os dedos se entrelaçam sobre os lençóis

tornar-nos-emos quase imunes à paixão
mas se, subitamente, nos sussurrarem ao ouvido
uma qualquer trivialidade
deixaremos cair todas as nossas armas

toda a vida não chegará para juntar os cacos
não vamos ler todos os livros
nem tocar com os dedos os lábios da chuva
por vergonha, por medo

sentirás os dias como um choque em cadeia
uma dor que sobe lentamente
das mãos aos ombros
darás por ti a saborear o café amargo
como que treinado para o vazio.





2 comentários:

Blizard Beast disse...

Não te afastes muito tempo destas lides...

nocturnidade disse...

Sabes que ... escrevo todos os dias dentro da minha cabeça mas só por vezes as palavras saem para o "papel".
São fases, estou em exorcismo agora :)