terça-feira, 14 de junho de 2016

da explicação da ausência

não voltaremos a falar sobre os pássaros
na tenacidade dos dias por vir

agora, é apenas o linho cuidadosamente arrumado
dentro de gavetas envernizadas pela intempérie

sobrarão apenas estas fotografias
em que o teu sorriso ocupa toda a casa
em que os teus lábios, os teus dentes, a tua boca
destroem a lucidez do vazio

lá fora, a água correrá límpida nas bermas
junto ao mar quase conseguirei escutar-te sussurrar
o meu nome

talvez estejas ainda debruçado num qualquer parapeito
numa rua com centenas de casas pintadas de branco
todas irremediavelmente iguais
vais dizer-me bom dia e eu vou fingir não ouvir

apressarei o passo e ao dobrar a esquina serei pó.
na tua pele, apenas a memória vaga de uma brisa quente a beijar-te o ombro naquela manhã.

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