segunda-feira, 20 de junho de 2016

das invariáveis

o que nos restará para além da euforia deste dia?

as canetas delicadamente arrumadas
quando já não souber escrever

ou os frutos intactos na mesa de jantar
talvez a planta morta na janela da sala
uma música que reconheço por não a teres cantado.

diz-me, o que vai sobrar de nós?

continuaremos a ser de carne e osso
e músculo e ferida
seremos ainda compostos de tempestade

terei um cão para passear nos dias cinzentos
ou irei apenas ver passar carros na avenida
para não te perder.


3 comentários:

Anónimo disse...

É sempre tão notório a influência de Al Berto na tua escrita. E isso agrada-me, bastante.

nocturnidade disse...

O favorito. :)

Anónimo disse...

Cruel tempo de copiosos ventos e seus lamentos.

De esquivos animais e seus ais.

Quantas folhas escreverão minha jubilação

diante deste rigor, enlevado pela devastadora essência?

Que sangram a branca casa e sua destreza

para ecoar as vozes que transpõem o sono

e nos habitam como a certeza de sua derrocada?

Serão estas mãos de alguém, se já me devora

a penumbra e pela alva tudo renasce?

Recordarás estas longas horas quando despertar

uma idade tão sofrível quanto tuas pernas.

Mas consente ainda que a ilusão nos carregue,

que estas quedas, cujo desfecho adivinho,

nos enlacem como teus olhos ao desespero.

Amanhã voltaremos a calcorrear lugarejos

impensáveis, a acenar às laicas criaturas

a cada esquina remendando o alheio,

convencidas do seu triste labor;

ou, se desejares, buscaremos motivo outro

onde extenuar o coração e suas trémulas

promessas, construindo grades em volta.

Serás a treva e o que não vejo, apontando-me

uma fuga, furtiva que seja, e retirar-me-ei

como quem espera o destino ou um silêncio

último para o amor. Há muito me habituei

ao tique-taque do relógio e a este caderno incessantemente aberto.