domingo, 24 de julho de 2016

atravesso ruas como se a cidade estivesse, subitamente, vazia
atrás de mim alguém segue num passo mais lento
a balbuciar uma música qualquer que não conheço
as minhas pernas tremem, desvio o pensamento.

acendo um cigarro que fumo rapidamente
como se a inspiração do veneno me fizesse 
esquecer que estarás ali, duas ruas depois.

chego, peço um café, que pago fazendo uma piada
qualquer sobre o açucar e a colher
o rapaz atrás do balcão ri-se.

do balcão à mesa as mãos tremem.
olho para cima, para baixo, para os lados.
não sei qual é a postura certa da inquietação.
o cinzeiro é uma lata de atum forrada num tecido
barato cor-de-rosa. acendo outro cigarro
que não me lembro de ter fumado.

pego no caderno, ridículo, da cor do cinzeiro
faço um gatafunho qualquer. 
passaram 10 minutos ou a eternidade. 
não sei se é uma borboleta que me pousa na mão
ou uma faca que me atravessa a garganta.

começo a pensar na injustiça que cometemos.
como poderia este momento ser uma repetição
em vez de uma batalha.
levanto-me. dóis-me tanto.


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