sexta-feira, 1 de julho de 2016

projecto de fuga

que horas são?

nunca saberemos o fim da história
(falta-nos a última página de todos os livros)
esporadicamente debruçar-te-ás no parapeito da janela de uma casa pintada de branco
numa rua repleta de casas pintadas de branco
todas terrivelmente iguais.

com um copo de vinho na mão,
talvez consigas daí ver o mar
quem sabe, poderás pressentir dois pés descalços a caminhar sobre a areia.

fecharam todos os cafés,  pagaste o meu?
já sabes o nome deste animal que nos habita
por baixo da pele?

tu não querias um mundo igual todos os
dias mas, curiosamente, foi exatamente o que nos sobrou
pássaros que pousam nos lábios
e a arquitectura perfeita da fuga.

foste em mim, todos os lugares
quando julguei ter engolido o sol
quando o cigarro caiu apagado da beira da mesa
nos trilhos em que pronunciamos todas as palavras proibidas
ou ainda quando eram os teus dedos a percorrer o meu cabelo

continuarei a prever o momento em que acordas
e adivinho o brilho mais fundo nos teus olhos de menino ainda que tenhas passado a odiar o tempo
quase tanto como eu

este café é amargo, como a monotonia.
ela vai embora, segura as lágrimas.

promete-me que da próxima vez que nascermos
não vamos ter medo.



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