quinta-feira, 28 de julho de 2016

Miguel Esteves Cardoso - O Amor É Fodido

(...)"O amor é fodido. Nunca sabemos se estamos a dar ou a receber. Os teus
poemas também eram ricos. Transcrevo um de memória, para gáudio de quem
nos estiver a ler: « A quem, a quem hei-de-me dar; eu que já soube o que dava e
agora não sei mais nada? A quem hei-de dar a verdade que guardo tão mal, tal é
o mal que ele me faz: dar-me vida e nada mais» .
Escrevemos coisas parvas, perguntas já previamente concebidas para obter
respostas rápidas. Até parece que estamos a falar. Num dos nossos quartos.
« O teu mal» , dizias tu com frequência, sempre como se o mal fosse só
aquele e não contassem os milhares já indentificados ou por identificar, « é só
quereres quem não te quer e amares só quem for capaz de amar-te até à morte
sem nunca te ter…» .
De que nos serviu falar? De que nos serve escrever? Dizem-nos, quando
somos pequenos, que as mulheres gostam. Mas tu nunca gostaste. « A quantas
não terás já tu escrito?»
E eu respondia-te sinceramente: a mais de cem."(...)

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