quarta-feira, 20 de julho de 2016

boémia

já não temos Istambul, meu amor
as ruas de Paris estão cobertas de sangue
já não veremos Damasco ao pôr do sol
e mesmo Londres escapa-nos entre os dedos

mas para que serviam todos esses lugares
se quando os tinha, os teus olhos não existiam
e o que me atrevessava o peito era só o vento quente de julho

já não temos nada de puro, meu amor
nem janelas abertas sem medo de doenças
nem coragem para correr esta avenida
ou mesmo a fragilidade de quem não consegue pronunciar todas as palavras.

restam-nos os atrasos do metro
os prédios em construção numa dor que não sentimos ainda
bilhetes feitos de pó e lábios que se entreabrem às possibilidades

e é tanto.


1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto muito. É sempre um prazer dilacerante ler-te.

LN