segunda-feira, 25 de julho de 2016

das confluências

quantos gritos mais terei que conter
até que amanheça e as aves me atravessem
as têmporas?

não quero ler os jornais.
apenas beber este café
na imbecilidade de mais um dia.
eu sei que o mundo vai mal
que há uma névoa acesa nos meus olhos
mesmo quando não quero saber as notícias.

é a crueldade dos homens que me traz
o inferno à boca.
que me faz cair na espiral inevitável
do tempo.

e olho os relógios para não ver as feridas.
acendo cigarros para acelerar o fim.
eu sei
todos os ossos do meu corpo são fuga
e por muito que cerre as pálpebras
eu vejo
a prontidão das falésias a atravessar
o corpo.

se ao menos existisses fora de mim
e viesses povoar a inércia desta cidade
que já não tem dentes, nem mãos
para o abraço.

se ao menos os teus olhos
viessem acender a paixão das ruas
ou apenas pousar palavras nos becos
mais improváveis.

qualquer coisa que nos devolva a vida.
que nos salve da intermitência das horas.



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