terça-feira, 16 de agosto de 2016

angelina (cadernos 2003-2005)

doem-me as mãos de pensar
a palavra acesa na tua boca,
a chaga na memória extinta
dos cadernos de capa preta

|meta|morfose|

doem-me os dedos
de pensar a morte
engolir-te os ombros brancos
cortar-te a pele-veneno

angelina do amor maior
num piano com asas de borboleta
um osso a arder-te no peito.

implode uma flor na tua boca
e
doem-me os braços de pensar a noite
diluir-se na lingua mais funda.

que a criança é uma mentira
o céu é uma mentira
envergonhada.

eu não perdi a cabeça
só não sei dormir enquanto
a chuva me rompe a pele
no absurdo de pensar-te.

angelina do amor maior.
e uma luz do ponto de vista da morte.

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