terça-feira, 2 de agosto de 2016

traços


a mota arrancou
desceu a rua em direcção ao mar
por instantes houve silêncio
depois os travões do autocarro chiam
ao encontrar um semáforo vermelho.
segundos depois um avião faz-se à pista.

as gaivotas iniciam os rituais da loucura
sobrevoam os lugares nocturnos
choram mágoas anteriores.
tudo acidentalmente sincronizado
como se cada momento fosse previsível.

gosto dos barulhos do amanhecer da cidade
os moínhos de café, as cadeiras da esplanada
ligeiramente arrastadas para o seu lugar
as cortinas nas casas perfeitamente alinhadas
um vento frio que nos faz adivinhar um dia
de temperaturas altas.

ninguém para dar nome ao desassossego
o sol ilumina já metade da ponte
adorarias se visses como se ilumina
o alcatrão a esta hora.
todos me parecem imortais ao amanhecer.


tu e eu, imortais ao amanhecer.




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