me espera junto ao portão
e ouço as primeiras folhas secas
estalar debaixo das sandálias
sei que nunca virias realmente.
foi antes a ilusão e a sombra
entre os lábios gretados do cansaço
de uma vida que quiseste ao contrário.
sei que sorriria ao mostrar-te
as linhas da minha infância,
este banco onde aprendi palavras
tão compridas. esta rua por onde
corria em frente ao posto da guarda
como se temesse já a punição pelos
crimes que cometeria apenas anos depois.
as mãos sujas das amoras desfeitas
dentro da taça de plástico verde
havia de fazer-te sentir tudo isto
como se o tivesses vivido comigo.
a bicicleta encostada às oliveiras
e os pés descalços como se fossemos
eternos ilusionistas.
séculos antes das feridas
quando o sol nascia nos dias de feira
e entre o sono e a felicidade
caminhávamos sem medo.
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