terça-feira, 30 de agosto de 2016

time to rest

em boa verdade aquilo nem foi bem uma história de amor. foi antes uma sucessão de atropelos. como quem corre para apanhar o autocarro para chegar a determinado lugar porque tem mesmo, mesmo que ser. olhando bem para as coisas, como efetivamente aconteceram, não se terão sequer olhado uma única vez. viam-se, naturalmente, mas aquele olhar profundo de quem quer provar a alma nunca aconteceu. o mais próximo que estiveram do amor foi uma certa altura, em que ela partiu a mão e era ele que lhe espremia as laranjas para o sumo matinal. de resto, podiam perfeitamente ser colegas de quarto de uma qualquer colónia de férias. aquele sorriso de quem se encontra a si próprio, por acaso, nas estradas da vida, nunca se viu nem na cara de um nem da do outro. embora sorrissem, logicamente, nas cenas mais engraçadas das séries de televisão. que viam, cada um do seu lado do sofá, como estava mentalmente definido sem qualquer contestação. em boa verdade, aquilo nem foi bem uma história. mas antes um acidente. ambos acidentalmente infelizes, anfitriões de uma casa que nunca foi sua. a dançar valsas e a colecionar fotografias de momentos que nunca aconteceram realmente. a trocar beijos como quem troca dinheiro na mercearia. contudo, a não saber desejar mais nada. a viver como se tivessem comprado sapatos de um número abaixo do seu, com esperança de acordar um dia e ser esse o número certo. na expectativa de viver sem encolher os dedos dos pés. o que, em boa verdade, nunca aconteceu.

Sem comentários: