quinta-feira, 18 de agosto de 2016

malade

não consigo acordar. o tempo deixou escorrer para dentro do corpo o pó luminoso da angústia.
o peito arde como os lábios, há uma fissura quente entre a parede e a janela.

lá fora, as putas e os assassinos contam segredos ao ouvido da eternidade, nunca saberemos a sua língua. a mãe bem lhes disse que não seriam felizes se não falassem francês ou se não soubessem medir os passos das aranhas.

lá fora, os cães cegos de cio, os candeeiros enferrujados cintilam como estrelas de aço. dirás: nesta cidade habitam todos os teus fantasmas. eu vou responder que je ne sais pas parler français quanto mais aproximar a língua do éter.

passei o dia a segurar os olhos entre o polegar e o indicador mas não consigo acordar.

não sei a língua da paixão, quanto mais falar francês. não conheço o olhar das putas nem dos cães. e com assassinos só me cruzei uma vez por mero acaso na fila do supermercado.


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